quarta-feira, 12 de setembro de 2012

OS EVANGÉLICOS E SUAS GUERRAS IMAGINÁRIAS NAS REDES SOCIAIS


Já faz dias que tenho visto essa postagem nas redes sociais, e hoje, por motivo desconhecido, não aguentei ficar calado, resolvi expressar aqui minha decepção, espaço que criei para tais desabafos e experiências.

Vamos ao texto que os evangélicos estão postando: Os evangélicos comemoram porque supostamente frustraram um projeto de um filme supostamente anti-cristão que supostamente Renato Aragão pretendia lançar. Isso tudo é suposição, ok? Dá pra ver que o tal filme não passa de um projeto, pelo que a briga é por conta desse título provisório: "O Segundo Filho de Deus". Também está claro que ninguém leu o roteiro, ninguém sabe do que se trata, nem mesmo o tal Lauro Jardim, colunista do site da Veja que é citado duas vezes apenas para dar credibilidade ao conteúdo.

O texto também apoia sua posição em desconhecidos "portais", mas estes também não são citados, não temos a chance de consultá-los e de nos aprofundar na questão. Esses "portais" também estão presentes de maneira muito imprecisa apenas como recurso retórico, para dar confiabilidade ao texto, para não deixar o leitor notar que tudo não passa de mera especulação. Algo semelhante pode ser dito sobre a data que o texto apresenta (sexta-feira, 31), dia da publicação da Veja, a qual não passa de uma "ancoragem" que de alguma forma liga o texto à realidade, informação que geralmente não é decisiva para o conteúdo em si.

Depois, o próprio texto diz, citando uma tal de "Focus Filmes", que as especulações sobre o conteúdo anti-cristão do filme são falsas, que a história não seria essa. Apesar de tudo o que está dito não ser de grande confiança, o próprio texto nos mostra que não há motivos para se discutir. Estão numa guerra imaginária, e os alvos podem ser inocentes dos ataques sofridos. Outro dado desse tipo que o texto traz é aquele em que a Sony não teria apoiado o projeto por razões desconhecidas. Talvez a Sony tenha influenciado na decisão de adiar o filme mais do que a "retalhiação" dos evangélicos, mas o texto não está interessados nesses detalhes.
Veja na parte de baixo da imagem que a revista Veja é citada como "fonte", o que é uma mentira, posto que o conteúdo não traz citações precisas da revista, mas uma leitura bastante parcial do que ela teria publicado em sua versão digital. Novamente, temos um recurso retórico empregado para manipular o leitor.

Pior ainda, lemos no final um convite: "se você está feliz com isso, compartilhe". Os evangélicos que compartilham esse texto, que curtem, que festejam, estão comemorando o quê? A ideia de que eles podem ter frustrado um projeto cinematográfico que lhes parece contrário à confissão de fé? Não podem as pessoas que pensam diferente se expressar artisticamente? Querem eles restaurar o sistema ditatorial no Brasil? Não é esse um modo de agir próprio dos estados islâmicos extremistas? Depois ainda vão pedir nosso voto para instaurar um Brasil evangélico e opressor da liberdade humana...

Mas além da atitude opressiva que demonstram, de não notarem que podem estar prejudicando inocentes que só queriam produzir um filme como qualquer outro, também me incomoda a falta de sensibilidade artística desse grupo religioso. Os evangelhos do Novo Testamento nos contam uma história bonita, onde um homem admirável foi morto pelos romanos por expressar um discurso religioso de características subversivas. Ali, Jesus, que aos olhos humanos foi derrotado, transforma-se no vencedor; ele volta à vida e assume uma posição de honra e poder que supera a dos seus assassinos. É uma história de fracos que vencem, uma história que transmitem esperança.

Suponhamos que realmente o filme rejeitado de Renato Aragão seja aquele em que um outro "filho de Deus" vem ao mundo para completar a missão de Jesus. Essa história não seria tão absurda artisticamente falando, ela é até criativa. Faz-se uma nova interpretação da história de Jesus, onde um projeto divino é realizado em duas etapas, admitindo que poderia eleger outro messias. Na minha opinião, o tema aproveita bem uma das muitas possibilidades interpretativas que são possíveis para a história da morte de Jesus, embora saibamos que essa leitura não coincide com a adotada pelo cristianismo.

Os evangélicos não sabem brincar... Não sabem o que é ficção, não sabem como funciona o humor, e por isso lêem a Bíblia como verdade histórica e depois tentam evangelizar os outros através da exibição daquele filme do Mel Gibson sobre Jesus, que é católico, fictício, hipotético, e também faz uma leitura muito pessoal e violenta da morte de Jesus. Mas como esse filme serve aos propósitos deles, o apoiaram. Agora, me envergonham (digo "me envergonham" porque talvez ainda seja parte involuntária desse grupo) com essa "festinha" pela vitória numa guerra imaginária e preconceituosa... (e todas as ofensas deselegantes que eu ainda gostaria de dizer aqui estão implícitas nessas reticências).

2 comentários:

Igor Tiago disse...

a bíblia não é um livro de piada pra que se ache engraçado!

'conheça a verdade e a verdade voz libertara"

Anderson de Oliveira Lima disse...

Não sei não Igor, acho que nós é que não sabemos identificar o humor nos textos bíblicos. Por algum motivo, os leitores acham que Jesus era um cara sem graça, que falava com todo mundo em tons de sermão. Há muita ironia na Bíblia, e trechos que tinham o propósito de nos fazer rir sim. Mas a verdade mesmo é que essa discussão não tem nada a ver com o texto do blog, que infelizmente você não entendeu.

Obrigado pelo comentário.