quarta-feira, 3 de agosto de 2011

JESUS EM CAFARNAUM E SEUS PRIMEIROS SEGUIDORES: MATEUS 4.12-22

Quando João Batista é preso, Jesus deixa a Judéia e volta para a sua terra natal, a Galiléia. Porém, Jesus já não vai para Nazaré, mas vai para Cafarnaum (v. 12-13), que talvez fosse uma alternativa economicamente mais viável para Jesus e sua família naqueles dias (veja: Lima, 2010, p. 8-10). É importante repetir o nome de Cafarnaum, que será verdadeiramente a sede do ministério de Jesus ao longo do evangelho todo. Em Cafarnaum Jesus estará em casa, e veremos como astutamente aparecerão oposições de significado entre este e outros índices topográficos. Jesus começa a pregar em Cafarnaum (v. 17), e neste ponto é interessante notar que ele repete literalmente as palavras que resumem a pregação de João Batista, seu mestre transformado em mero introdutor. Quem sabe, Jesus tomara conhecimento de sua missão através de suas experiências místicas no batismo, e agora começava a trabalhar por conta própria seguindo rigorosamente o exemplo de seu predecessor? Será que não há no evangelho um plano evolutivo para Jesus, sua compreensão de si mesmo e de seu ministério?

Em Cafarnaum Jesus começa a reunir seus discípulos, que são chamados a renunciar os vínculos profissionais, sociais e familiares, e aderir ao itinerantismo (v. 18-22). Os homens chamados são: Pedro e André, e Tiago e João. Sabemos que dentre eles sairão os apóstolos cujos nomes o Evangelho de Mateus e o cristianismo primitivo de muitas regiões mais privilegiariam. E não é por acaso que eles são logo apresentados como bons exemplos. Ao lado de Mateus (veja Mateus 9.9), esses homens aceitam o chamado radical de Jesus, e não olham para os tesouros terrenos que prendem muitos. O exemplo negativo que se opõe a eles é o “jovem rico” de Mt 19.16s, que como veremos, recusa este mesmo chamado por possuir muitas propriedades. Além do “jovem rico”, veremos outros dois exemplos negativos no capítulo 8, dos versículos 18 a 22. Este ideal de discípulos completamente desprendidos dos bens materiais perpassa todo o Evangelho de Mateus, como veremos, e por isso sabemos que essa breve apresentação dos primeiro discípulos de Jesus, é bastante honrosa e serve como um exemplo permanente para os leitores implícitos.[1]


[1] Aqui empregamos um termo próprio da Narratologia, que é explicado nas chamadas “instâncias narrativas” (Marguerat; Bourquin, 2009, p. 84-86). Em resumo, no lugar da busca por um autor real e sua intenção, fala-se da busca pelo “autor implícito”, que é o autor/personagem que o próprio texto nos permite encontrar. Da mesma forma, já não nos perguntamos pelos destinatários originais de um texto, mas podemos perguntar pelo “leitor implícito”, o leitor/personagem imaginado pelo autor que é a quem ele destina seu texto.

Um comentário:

Anônimo disse...

É interessante colocar algumas coisas na seqüência da história. Dá para ver como João preparou o caminho de Jesus, até o apresentando aos discípulos dele. Depois, quando Jesus chamou, eles estavam prontos a seguir. Isso que é mais legal :D