domingo, 12 de junho de 2011

JESUS PROCURA JOÃO, O BATIZADOR: MATEUS 3.13-15

Nova perícope se inicia, e narrativamente há uma mudança que vale a pena observar. A partir do versículo 13 o narrador diz que Jesus vai até a Judéia (sul do país) para procurar o profeta João Batista. A impressão que temos é a de que está por traz da narrativa deste encontro um evento histórico, que é busca de Jesus por João e seu batismo. Porém, no processo de organizar as tradições sobre Jesus num evangelho, as coisas foram interpretas de forma que confirmassem a mensagem de fé dos cristãos de então. Assim, o Jesus que um dia foi discípulo de João, e que submeteu-se ao batismo confessando os seus pecados (conforme a exigência para todos os candidatos ao batismo), foi transformado. Ele não possuía pecados segundo os evangelhos, e por isso, seu batismo não passou de um gesto de obediência a normas religiosas; ao mesmo tempo, o profeta João que aparentemente foi um mestre de Jesus, é devidamente colocado num lugar mais secundário.


Em Mateus esse texto é particularmente estranho. O evangelho se nega a cumprir normas religiosas como essas. É uma contradição teológica: jejuns, orações rituais, sábado, sacrifícios... atos religiosos como esses são todos relativizados por Mateus, alguns até mesmo substituídos por “obras de misericórdia”, como veremos nos capítulos futuros. Mas o batismo parece ser um ritual que Mateus aceita, e por isso o texto faz Jesus, o homem que não tinha pecados, batizar-se para legitimar o ritual da comunidade. Os problemas teológicos foram resolvidos com aquele argumento de que Jesus, até ele, batizou-se para cumprir as normas do grupo que integrava. Nenhum leitor está livre para negar o batismo como rito de iniciação necessário, pois segundo o evangelho, até Jesus, que não precisava confessar pecados, não precisava de nenhum perdão, e que não tinha que mudar de vida, o fez para servir de exemplo.

Nenhum comentário: