sexta-feira, 18 de junho de 2010

A MULHER QUE UNGIU JESUS – (Parte VII)

Começa agora a análise da segunda seção de nosso texto (perícope). O comentarista Ulrich Luz também a delimita como fizemos, separando os versículos 8 a 12 e chamando esta porção de “diálogo de homens”. O autor passa a descrever um diálogo entre Jesus e seus discípulos que usa um número muito maior de palavras do que a própria narração do tema que discutem utilizara; aqui encontraremos o ensinamento que se queria transmitir por meio da perícope.

Sigamos em nossa análise literária, lendo o texto cuidadosamente para que nenhuma informação nos escape. A primeira novidade é a aparição dos discípulos até então ocultos. Eles são personagens do texto que só entram em cena agora, mas isso não surpreende, pois os evangelhos nos ensinaram que eles estavam sempre ao lado do mestre; ou seja, a presença dos discípulos era um pressuposto para o autor. Contudo, um ponto mais importante nesta nova entrada é que habilmente o autor os discípulos falar antes de Jesus. Os discípulos eram apenas expectadores em relação à unção ocorrida, mas o objeto da ação que é Jesus não se expressa. Ficamos ignorantes sobre sua reação; não há palavras, gestos ou expressões faciais descritas, e isso assim acontece porque a opinião de Jesus sobre a mulher, embora importante, deve também ser vista mediante a posição contrária dos discípulos. O autor poderia ter deixado os discípulos de fora, poupando a memória deles enquanto exaltava a mulher, mas quis distingui-los da mulher para fazer dela uma exceção de grande importância na narrativa da paixão.

Vou ter agora que começar a analisar as palavras dos discípulos, mas optei por deixar isso para uma próxima seção. Se me expressei bem nesta parte de nosso estudo, você deve ter aprendido um pouco mais sobre a análise literária. Com base no exemplo que vimos, entende-se que é necessário ler as narrativas bíblicas não como se fossem relatos de acontecimentos reais, mas como textos, construções que atendem mais aos interesses daqueles que os produziram do que representam fidelidade histórica. Por isso é importante notar as características de cada personagem, os seus padrões de fala, a organização dada ao diálogo... Nunca saberemos se os discípulos realmente fizeram isso ou aquilo, ou se Jesus falava desse ou daquele jeito, mas podemos descobrir como os autores gostariam que eles agissem ou falassem. Por isso, temos que reconhecer desde o princípio que não estamos estudando a vida, o discurso ou os atos de Jesus ou de outro personagem, mas apenas analisando obras literárias.

3 comentários:

Anônimo disse...

estou acompanhando a sua analise e tenho gostado bastante. obrigado pela sua dedicaçao. abraço

Sérgio Sanchez disse...

Anderson, muito bom, estou acompanhando. Estarei aguardando, pois percebo que vem mais...

abraços

Anderson de Oliveira Lima disse...

Amigos, fico muito feliz por cada pessoa que diz que está acompanhando o estudo. Vejo que o trabalho não será em vão.

As conclusões sobre a compreensão do texto são secundárias neste caso, o grande propósito é explicitar o método de análise, revelar como chegamos a cada uma das conclusões.

Agradeço a atenção de todos. Ainda temos bastante trabalho pela frente.