segunda-feira, 14 de junho de 2010

A MULHER QUE UNGIU JESUS (Parte VI)

Hoje finalmente estamos terminando a análise da abertura narrativa do texto, que está entre os vv. 6 e 7. Vimos que Jesus, o personagem, está no começo do seu fim, ou seja, dando início à fase final de sua vida na Judéia. Também vimos que ele entra na casa de leprosos e come com eles, agindo de maneira radicalmente oposta àquela considerada ideal pelas mais influentes vertentes religiosas de sua sociedade. Depois, uma mulher sem nome derrama um perfume valioso na cabeça de Jesus, o que parece chocar as pessoas presentes. A pergunta que falta responder é: por que a mulher fez isso?

Neste ponto, vocês já devem ter se lembrado de livros que leram ou de sermões que ouviram sobre o texto, e isso nem sempre é um bom sinal. Como mencionei antes, essas experiências prévias podem significar limitações para a nossa análise. Para avaliar como essas leituras anteriores nos influenciam, podemos recorrer a outro passo exegético que chamo de história da leitura, onde averiguamos como este texto de Mateus foi lido ao longo dos séculos. Se procurarmos por comentários de Mateus produzidos pelas gerações anteriores, veremos que muitas e muitas vezes se atribuiu à unção de Jesus um significado régio, ou seja, um gesto que simbolizava a unção de um rei. Mas eu discordo dessa leitura, embora ela tenha muitos adeptos. Acredito que ao ungir Jesus a mulher estava fazendo pondo em prática um dos procedimentos típicos de uma cerimônia fúnebre, proposta que também não é nova. Voltaremos a esse ponto mais à frente, mas deixo a quem quiser a sugestão de investigar que tipo de unções ou embalsamamento se fazia naquela época e lugar, e de procurar conferir nos livros, que significado costuma-se atribuir ao ato da unção de Jesus em Betânia.

Enfim, nos dois primeiros versículos, que podemos unir pela linguagem narrativa comum como uma introdução ao diálogo subseqüente, temos o paradoxo de que o Jesus puro no lugar impuro é tratado com grande respeito. A iniciativa daquela mulher anônima podia parecer escandalosa para os fariseus e até estranha para os discípulos, mas para os evangelhos de Marcos e Mateus ela estava compreendendo e de acordo com o ministério inclusivo de Jesus, que traz para perto de si leprosos e outros excluídos. A mulher anônima talvez fosse da família de Simão, e foi motivada pela atitude compassiva de Jesus que ela fez uma boa obra para com ele.

2 comentários:

Paulo disse...

Anderson.

Mas como a mulher saberia do destino que se aproximava de Jesus?

Anderson de Oliveira Lima disse...

Boa pergunta Paulo! É bom ver como está afiado seu olhar exegético.

No caso de Mateus, o que me leva a crer nisso é o arranjo dado às perícopes. Logo antes de nosso texto, temos Jesus afirmando que os discípulos já sabiam que ele seria crussificado (26.1-2). Após declarar que eles já sabiam disso, vem a história da mulher preparando seu corpo para o sepultamento. Pode-se perguntar se a mulher sabia, se eles comentavam isso na casa etc; mas esses detalhes não são importantes, pois as narrativas são fictícias. Mais importante é a visão do autor, que falou da morte, depois falou da unção. Ele sabia muito bem dos eventos e sem dúvida viu essa relação entre os textos.

Vou parar por aqui, guardando outros detalhes para depois, já que esta é a grande surpresa do texto.

Obrigado pela participação.